sexta-feira, 22 de março de 2013

'As pessoas confundem revenda com pirâmide', diz diretor da Telexfree

Sócio e diretor de marketing da Telexfree, Carlos Costa atribui ao desconhecimento as suspeitas de que o negócio seja uma pirâmide financeira. O sistema de venda de pacotes de telefonia por internet  (VoIP) foi descrito como "não sustentável" em um parecer da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae) de 5 de março, e está sob investigação do Ministério da Justiça e de ministérios públicos estaduais.

Com base no sistema de vendas diretas, a Telexfree atrai interessados com a promessa de ganhos não só na comercialização do produto, mas também na divulgação da marca via internet – postagem de anúncios em sites, por exemplo – e pela conquista de mais representantes, ou divulgadores.
"As pessoas confundem muito isso com o formato de pirâmide e de corrente. E é o que marcou isso tudo. Mas nós estamos muito tranquilos com relação ao que move as investigações", diz Costa ao iG .
A Telexfree está no Brasil desde fevereiro de 2012, diz Costa, que informa ser sócio da empresa no Brasil, e chamou a atenção do governo federal depois que Procons alertaram o Ministério da Justiça sobre o volume de consultas e denúncias que vinham recebendo sobre o modelo de negócios. O de Mato Grosso, por exemplo, recebeu cerca de 2 mil contatos.
"Agora dizer que um divulgador da Telexfree fez alguma queixa no Procon ou coisa e tal, não, isso não tem, não", diz Costa.
Na entrevista, o diretor de marketing não deixa claro o quanto do faturamento da empresa vem da venda efetiva dos pacotes e quanto vem do ingresso, pago, de novos representantes na rede de divulgação. Costa também se recusa a informar qual é a empresa de telefonia contratada para operar o sistema VoIP – outro dos questionamentos da Seae. "Isso é confidencial".

Leia, abaixo, trechos da entrevista concedida por telefone.
iG:  Como o sistema da Telexfree chegou ao Brasil?
Costa:  Eu trouxe o sistema VoIP para o Brasil no formato de negócios da Telexfree. Já existia nos Estados Unidos desde 2002 e eu apresentei a proposta ao Jim Merril e ao Carlos Wanzeler e nós entramos num acordo e iniciamos o trabalho aqui em fevereiro de 2012 pela Telexfree Brasil.
iG: Quantos clientes e quantos divulgadores a Telexfree tem hoje?
Costa:  Esse número agora exato eu não teria para te passar. O número de divulgadores passou de 450 mil.
iG: E em relação aos clientes que usam o sistema VoIP, tem ideia aproximada de quantos são?
Costa: Deve ter hoje no total muito mais que 1,5 milhão de contas comercializadas. Aí são os usuários, vamos dizer assim. Lembrando também que muitos dos divulgadores, na sua grande maioria, também são esses usuários, só que com denominações diferentes, não somente de cliente.
iG: Um dos questionamentos (da Seae) é a falta de parceria com uma operadora de telefonia para que o serviço possa ser oferecido.  O senhor explica (em um vídeo postado no Youtube) que há uma carrier (operadora de telefonia) dos Estados Unidos que presta o serviço. Qual é essa carrier?
Costa:  Aí é confidencial, porque eu estaria falando em nome de outra empresa e não estou autorizado a isso. Mas é uma empresa nos Estados Unidos que tem negócio conosco há muitos anos com o pessoal nos Estados Unidos. É a mesma prestadora que vende para a gente o tráfego para finalizar as ligações. Não só para o Brasil como para qualquer parte do mundo.
iG: A Seae também questiona o fato de o preço dos pacotes VoiP da Telexfree ser mais alto que o da concorrência. 
Costa:  Aí você está fazendo uma afirmação e isto está errado, completamente errado. Você tem de pegar e formar o pacote de benefícios, para onde você pode ligar, e aí sim fazer a comparação exata. Se não me engano, o pacote que nós oferecemos é quase dez vezes mais barato. Mas é preço por pacote, não estou falando de ligações aleatórias. O pacote oferecido, se você levar em qualquer concorrente, ele sai muito mais barato.
iG: (No relatório da Seae) também se levanta o questionamento que o cerne da empresa não é o produto, mas o número de divulgadores. 
Costa:  A adesão hoje na Telexfree custa US$ 50 e está dentro das leis americanas que determinam qualquer coisa sobre marketing multinível, que o máximo, se não me engano, é de US$ 299. Você está adquirindo uma revenda. Nessa revenda nós temos pacotes AD Central com 10 contas VoIP, e você estaria adquirindo elas no atacado, ou até 50 contas VoIP que seria o pacote Family. Ou seja, você compra contas para revender assim como qualquer distribuidor.
iG: Os questionamentos, tanto por parte dos Ministérios Públicos quanto por parte do governo federal por meio do Ministério da Fazenda e da Justiça, afetaram os negócios da empresa?
Costa: Nós até concordamos que tudo isso seja feito, pois vai nos dar uma oportunidade para separarmos o joio do trigo nesse mercado de multinível, porque realmente existem algumas empresas, não é o caso da nossa, que trabalham de forma errada. Isso só nos prejudica porque quem não tem o conhecimento da matéria costuma englobar tudo e é tudo farinha do mesmo saco, o que não é verdade. Então somos favoráveis, sim. Realmente, não vou dizer para você que nós estamos felizes com o que está acontecendo até porque infelizmente pessoas, por exemplo, estão dizendo (na imprensa) que o ministério acusou a empresa. E ali não está dizendo nada disso. Ali naquele parecer (da Seae) estão dizendo o seguinte: que a Seae, no campo dela, não tem nada contra a empresa, e sugerem que alguns itens sejam investigados. Em nenhum momento saiu (a palavra) 'acusa' e na imprensa saiu acusa para tudo que é lado.
iG: Isso chegou a afetar  os negócios?
Costa:  A empresa continua vendendo da mesma forma. A única coisa ruim nisso tudo é que alguns dos divulgadores com alguma razão se sentem constrangidos mas, como eu te falei, porque muita coisa é colocado de forma um pouco exagerada, digamos assim.
iG: Ocorreram atrasos nos pagamentos aos divulgadores ou na oferta dos serviços VoIP aos clientes?
Costa:  De forma alguma, tanto que até de forma sei lá estranha nós não temos em nenhum órgão reclamações de divulgadores. Nós não temos divulgadores que estejam reclamando da empresa porque tudo ocorre na normalidade que vinha ocorrendo desde o início, desde fevereiro de 2012.
iG: Pode me dizer quanto a empresa faturou no ano passado?
Costa: Isso por questão de segurança não é bom (divulgar). Tudo foi entregue para os órgãos competentes, o balanço da empresa em 2012, toda a contabilidade. Tudo está informado nos órgãos competentes.
iG: Por que surgiu a investigação e a acusação de que a empresa funciona como um sistema de pirâmide?
Costa:  Na minha opinião, tudo o que faz sucesso tem denúncias que saem não sei onde. Nós da Telexfree estamos tranquilos em relação a isso, porque na hora vai ter que ser provado. Vai chegar essa hora, e é um parecer econômico do negócio e não suposições ou especulações. Acho que as pessoas estão confundindo muito. As pessoas, para adquirir uma revenda convidando outras para também se tornarem revendedores. As pessoas confundem muito isso com o formato de pirâmide e de corrente. E é o que marcou isso tudo. Mas nós estamos muito tranquilos com relação ao que move as investigações.
iG: Quem tem hoje pacote ou é divulgador corre o risco de ficar sem produto ou seus rendimentos?
Costa:  Não, de forma alguma.
iG: O senhor poderia dizer em porcentagem, não precisa dizer em valores, o quanto do ganho da Telexfree vem da venda de pacotes e o quanto vem apenas do sistema de divulgação?
Costa:  Isso é fácil. A adesão custa US$ 50 apenas, que é o que as pessoas mais confundem, dizendo que as pessoas ganham dinheiro por ter a adesão de outros. Não é verdade, porque se você for um divulgador nosso e convidar outra pessoas para essa adesão de US$ 50, você não recebe absolutamente nada.
iG: Então por que o relatório da Seae diz que o negócio não é sustentável?
Costa:  Tem que perguntar para eles. Eu creio, não tenho certeza, que eles estão englobando uma coisa só. Estou te falando que adesão custa US$ 50 e a revenda AD Central e Family custa outros valores. Na minha opinião o que fizeram lá foi englobar tudo como se fosse adesão.
iG: O senhor diz que as investigações partem de fora...
Costa:  Tudo começou no Acre, pelo que a gente sabe, da seguinte forma: pessoas que queriam adquirir nossas revendas ligavam para o Procon do Acre para consultar alguma coisa da empresa. Até porque, de todas as pesquisas que eles faziam, na Receita Federal, o CNPJ e por aí vai, (encontravam) tudo ok. Então eles ligavam no Procon e foram inúmeras ligações e daí começou tudo isso.
iG: Então não eram reclamações?
Costa:  Aí depois de lá vieram Recife e Mato Grosso, mas nunca houve uma denúncia de um divulgador nosso que tenha tido qualquer tipo de problema.
iG: Então não há denúncias de pessoas que tenham perdido dinheiro?
Costa:  É isso que a gente até acha estranho. A Telexfree hoje é uma empresa que está sendo acusada de, vamos supor, poder lesar. (Mas isso é feito) por pessoas que estão fora do nosso negócio e não por pessoas que estão dentro.
iG: Então não há reclamações ao Procon?
Costa : Como eu estou te falando, (houve) muitas pessoas ligando nos Procons para tomar informação sobre a empresa. Então o Procon, sem ter tais informações para passar foi buscando outros órgãos para que pudessem estar passando mais transparência. Agora dizer que um divulgador da Telexfree fez alguma queixa no Procon ou coisa e tal, não, isso não tem, não.

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