quarta-feira, 3 de setembro de 2014

STJD decide excluir Grêmio da Copa do Brasil por racismo contra goleiro Aranha



STJD decide excluir Grêmio da Copa do Brasil por racismo contra goleiro Aranha
Julgamento do Grêmio por atos racistas aconteceu nesta quarta-feira
O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) decidiu excluir o Grêmio da disputa da Copa do Brasil de 2014, em julgamento que durou mais de três horas, realizado nesta quarta-feira à tarde, no Rio de Janeiro. A exclusão do Tricolor gaúcho aconteceu por causa dos atos racistas de torcedores do clube contra o goleiro Aranha, do Santos, durante jogo em Porto Alegre no dia 28 de agosto.
O placar da decisão da 3ª Comissão Disciplinar do STJD foi de 5 a 0 pela saída do time, multa de R$ 54 mil - R$ 50 mil pelas injúrias raciais, R$ 2 mil pelo rolo de papel higiênico arremessado no gramado e R$ 2 mil pelo atraso na entrada do campo - e os torcedores identificados serão proibidos de frequentar a Arena por 720 dias.
A diretoria gremista deve entrar com recurso a ser julgado pelo Pleno, em prazo estimado de 15 dias.
O Grêmio foi denunciado pela prática de ato discriminatório relacionado a preconceito em razão da raça, conforme previsto no artigo 243-G do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva). Na ocasião, aos 42 minutos do segundo tempo, já com o placar de 2 a 0 a favor do time paulista, Aranha ficou indignado e paralisou a partida para informar ao árbitro Wilton Pereira Sampaio sobre a manifestação. Imagens exclusivas da ESPN flagraram a torcedora Patrícia Moreira chamando o goleiro de "macaco".
O procurador Rafael Vanzin mostrou prova de vídeos com matérias jornalísticas sobre o caso, inclusive as imagens da ESPN. A Procuradoria do STJD pediu multa significativa e a exclusão do Grêmio da Copa do Brasil.
A defesa gremista contou com dois advogados, Gabriel Vieira e Michel Assef Filho, que tentaram a absolvição do clube ou a redução da pena. O Grêmio admitiu as ofensas racistas, mas alegou que foram apenas cinco pessoas entre 30 mil que estavam no estádio, e ainda exibiu imagens de campanhas contra o racismo promovidas pelo clube.
"Punir um clube por causa do ato de cinco torcedores é severamente pesado. O Grêmio é um dos poucos torcedores que faz campanha contra o racismo e há muito tempo. O mundo real, e não o mundo ideal desta Procuradoria, pode ter torcedores que vistam a camisa azul, preta e branca para prejudicar o clube, e estou dizendo isso hipoteticamente. Não se pode confundir a repercussão com extrema gravidade. Foram cinco pessoas no meio de 30 mil. Eu entendo que o Grêmio não podia fazer nada a mais, o Grêmio fez campanhas, colaborou com a polícia, identificou os torcedores. Uma punição neste caso seria um desestímulo a essas campanhas", discursou Michel Assef Filho.
Pouco antes, o presidente do Grêmio, Fábio Koff, também deu o seu depoimento no tribunal esportivo e destacou o impacto negativo que a exclusão da competição poderia causar: "Essa é uma noite histórica, ela não se limita somente ao fato ocorrido, ela atinge um clube com 111 anos de existência, com uma escolinha de 1.100 crianças, das quais 1/3 são de cor. O prejuízo causado ao mais elevado valor do clube, que é a imagem, é irreparável. Se a pena ocorrer, deve ter sentido pedagógico e não ultrapassar limites. O Grêmio foi precursor em não dar subsídio a torcidas organizadas".
O árbitro Wilton Pereira e o assistente Carlos Berkenbrock também foram julgados por não terem relatado inicialmente na súmula a situação, o que foi feito apenas em um adendo no documento ao chegaram ao hotel, depois de terem visto o fato em notícias na televisão. Os dois explicaram que, apesar da reclamação de Aranha durante o jogo, eles não puderam ouvir ou ver as manifestações racistas naquele momento.

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