sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Música de cantor potiguar que cita 'senzala' e 'pretinha' gera polêmica

Cantor potiguar Artur Soares foi alvo de críticas nas redes sociais pela música 'Ma Nêga' (Foto: Lenart Veríssimo/Arquivo Artur Soares)Cantor Artur Soares foi alvo de críticas nas redes sociais (Foto: Lenart Veríssimo/Arquivo Artur Soares)
Uma composição de um músico do Rio Grande do Norte vem causando polêmica nas redes sociais por, supostamente, conter trechos racistas e machistas. A música 'Ma Nêga', do cantor Artur Soares, traz versos que citam as palavras 'senzala' e 'pretinha', principais alvos das críticas. O Coletivo Autônomo Feminista Leila Diniz chegou a publicar uma nota na qual afirma que Soares "se apropria de uma dor histórica" para vender a música. Clique AQUI e veja o clipe da música.
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O cantor nega que a composição teve a intenção de ser racista e explica que a música é uma homenagem à mulher negra. "Não tive nenhuma intenção machista ou racista, justamente porque a escrevi em homenagem à uma mulher negra que, por sinal, entendeu à sua maneira e adorou a canção, assim como as mais de vinte negras que gravaram conosco. Acredito nisso, que o que há de bom e o que há de mal no modo de ver as coisas está dentro de nós", rebateu Soares.
O trecho mais citado nas redes sociais é o que diz "nêga, você vai gostar. Nêga, eu vou te prender na senzala iorubá e o que eu ensinar você vai ter que aprender, porque eu vou te maltratar, pretinha".
Quanto às críticas, o músico disse que de início não entendeu muito bem, pois "a música havia sido lançada junto ao clipe três meses atrás. Saiu em alguns jornais, blogs, já tocando razoavelmente no rádio... sempre bem recebida e ninguém se manifestou a respeito de tais questões. Quando percebi, uma espécie de burburinho já estava instaurada".
Sobre "senzala", "pretinha" e "maltratar", ele explica que foi influenciado pelo compositor Ataulfo Alves, quando escreveu "Mulata Assanhada". E citou um trecho da canção: "Ai, meu Deus, que bom seria/Se voltasse a escravidão/Eu pegava a escurinha/E prendia no meu coração!.../E depois a pretoria/Resolvia a questão!".
O G1 também perguntou se a música poderia ter sido escrito de outra forma e, com a repercussão, se ele pretende mudar a letra, como sugerem alguns críticos. Ele respondeu que a música que ele fez é um single, e que quando gravou a faixa já sabia que ela não entraria em trabalhos posteriores. "Agora, sobre ter escrito de outra forma, não consigo imaginar. Cada canção leva sua própria essência. Vou citar uma frase bem interessante, e que convém perfeitamente ao caso, onde um dos nossos grandes ídolos diz: - não sou eu. São as músicas. Sou o carteiro que as envia. Eu entrego as músicas".
Coletivo publicou nota de repúdio em sua página no Facebook (Foto: Reprodução/Facebook)Coletivo publicou nota de repúdio em sua página no Facebook (Foto: Reprodução/Facebook)
A nota do Coletivo Leila Diniz foi publicada no Facebook, e também fala do verso "trago uma coca-cola pra você pra combinar com sua cor, pretinha". Para o coletivo, a música de Artur Soares remete a episódios tristes da história, "como a escravidão e a violência sexual a que eram submetidas as escravas mulheres", diz a nota de repúdio ao artista.
O coletivo acrescenta ainda que "o cantor não parece compreender que os respingos dessa dor ainda predomina na realidade da população negra, sobretudo das mulheres, e 'Ma Nêga' vem rememorar e legitimar a violência colonial perpetrada pelos sinhôzinhos sobre nós". Na nota de repúdio, o coletivo também estende a crítica a espaços culturais em que Artur Soares apareceu, como o Prêmio Hangar de Música e o projeto Eco Praça, e acrescenta que o movimento tentou sem sucesso o diálogo com o músico.

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