quarta-feira, 29 de abril de 2015

Lendas do RN

A lagoa de Estremoz* - lagoa de água doce - localizada no município do mesmo nome, no estado do Rio Grande do Norte, ocupa uma área de 4.2 quilômetros quadrados, é responsável hoje, por 70% do abastecimento de água da região Norte da cidade de Natal.
A lagoa, que já se chamou lagoa Tijiru, teve um papel muito importante no processo de colonização do estado. Em torno dela, no local chamado Guagiru, habitavam os  índios tupis e tapuias. Em 1607, os jesuítas da Companhia de Jesus chegam à  localidade e recebem do Capitão-Mor Jerônimo de Albuquerque, cessão de terras para o trabalho de catequese com os índios, estabelecendo a missão de São Miguel do Guajiru.
Com a saída dos jesuítas, por volta de 1760 a aldeia passou a se chamar Vila Nova de Estremoz - a primeira Vila do Rio Grande do Norte.






Da época das missões, os nativos de Estremoz guardam muitas histórias e lendas. Entre outras importantes, como a Lenda do Tesouro, segundo a qual os próprios moradores destruíram a  antiga Igreja de São Miguel do Guagiru em busca de um tesouro enterrado, a lenda das Cobras da Lagoa  se constitui a mais viva tradição local, e continua, portanto, fazendo parte do imaginário coletivo do povo dessa cidade.


AS COBRAS DA LAGOA DE ESTREMOZ





"No tempo dos frades, a lagoa era povoada por duas cobras enormes. Uma, muito feroz e atrevida, devorava os banhistas e quem atravessasse a lagoa devia pedir proteção a São Miguel para não ser agarrado pela cobra. As crianças eram as vítimas preferidas pela cobra maligna. A outra cobra era mansa. Limitava-se a assobiar tristemente nas tardes em que seu companheiro nadava perseguindo os incautos.
Reza a lenda que essas cobras eram duas crianças pagãs que os  índios jogaram dentro da lagoa, a conselho dos "pajés"para que os padres não as batizassem. Viraram cobras e estavam cumprindo cumprindo penitência...





Num domingo, depois da missa, um padre missionário, veio até a margem da lagoa e, em nome de Deus, intimou as cobras a comparecer na igreja, naquela tarde, às horas da benção do Santíssimo Sacramento.
A cobra fêmea, tardinha, saiu da lagoa, arrastou-se, repelente e viscosa, para a vila, espavorindo quem a avistava. Atravessou a praça e enrolou todo o edifício da igreja com seu imenso corpo reluzente, juntando a cabeça e a cauda na soleira da porta principal.Do altar-mor, paramentado, o vigário admoestou-a à santa obediência e, erguendo a mão, abençoou-a. A cobra desenroscou-se, voltou, coleante e terrível, para as águas da lagoa.Nunca mais saiu nem fez mal. Vez por outra vêem seu dorso negro, sobrenadando.





O companheiro, desobediente, não veio à igreja. O padre amaldiçoou-o da porta do templo, em voz alta e em latim.
A cobra excomungada nadou para o outro lado da lagoa, esgueirou-se  pelo mato e bufando como uma locomotiva, derrubando arbustos com o açoite furioso da cauda poderosa. No sítio Jardim, justamente no lugar "Embaíba". estirou-se e morreu. Nessa local, nunca mais nasceu capim e a estreita faixa de areia no meio da vegetação reproduz fielmente o contorno da serpente fantástica".
   (Câmara Cascudo - As cobras da lagoa de Estremoz - RN)




FONTES:
  • Luís da Câmara Cascudo - Geografia dos Mitos Brasileiros - Mitos secundários e locais -  Global Editora - São Paulo - 2002.

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