Da Tribuna do Norte.
Maria Francinete de Oliveira, autônoma, é mais uma trabalhadora que, pela terceira vez em seis meses, entra para as estatísticas da insegurança que assola a terceira maior cidade do estado, Parnamirim. Ao sair do supermercado, quinta-feira passada, ela foi surpreendida por dois adolescentes armados, que levaram, além do celular e cartões de crédito, a feira da semana que acabara de comprar. Não bastassem os assaltos, Parnamirim viu, de 2010 a 2012, o número de óbitos por armas de fogo crescer 97,05%, conforme dados do Mapa da Violência 2015. Das duas Delegacias de Polícia Civil instaladas no município, somente uma delas é responsável pelo atendimento de uma população de aproximadamente 200 mil pessoas. O resultado: a investigação de crimes e prisão de suspeitos, prejudicada.
“Eu estava saindo do supermercado, com uma feirinha. Já andava quase sem nada, porque já havia sido assaltada outras duas vezes somente este ano. Eles estavam numa bicicleta, me pararam, me revistaram e levaram tudo o que tinha ali comigo. Foi humilhante”, relembrou Maria Francinete de Oliveira. Ela é moradora de um dos bairros periféricos de Parnamirim com o maior índice de violência, Passagem de Areia. Não somente na rua, mas também em casa, ela e a família foi vítima da insegurança generalizada. “Eles entraram pela porta da frente, com arma na mão e levaram playstation, aparelhos de celular, câmera digital e ainda queriam mais”, relatou indignada. “O que a vai fazer? Meus filhos estão amedrontados. Em que ponto chegaremos? O que farei para não mais ser assaltada?”, indagou a mulher que cria os dois filhos sozinha.
Pelas ruas de Parnamirim, não importando o bairro pelo qual se desloque, poucas viaturas de Polícia Militar são vistas. Em bairros periféricos, como o Bela Vista, considerado o mais violento da terceira maior cidade do Rio Grande do Norte, com 235.983 habitantes, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as ruas e vielas sem calçamento dificultam o policiamento ostensivo. Populares que preferem se esconder no anonimato, relatam que quase todos os dias uma pessoa morre nas cercanias, vítima, muitas vezes, do tráfico de drogas. Procurado para comentar o caso, o tenente-coronel Jair Júnior, comandante do 3º Batalhão de Polícia Militar, em Parnamirim, não estava na sede do Batalhão, tampouco retornou as tentativas de contato telefônico na manhã da sexta-feira passada.
“O policiamento é muito fraco e quando ligamos para o 190 para registrar qualquer ocorrência, passamos até 20 minutos ouvindo uma musiquinha”, lamentou o motorista de ônibus Jailson Leonardo, assaltado também por dois adolescentes na noite da quarta-feira passada. “Eles jogaram uma bicicleta na frente do ônibus e eu parei. Eles apontaram uma arma e eu abri a porta. Eles entraram, pediram dinheiro e depois saíram recolhendo os celulares dos alunos que eu transportava. Parnamirim está insegura em todos os bairros. Está fora de controle. A gente sai de casa e não sabe mais se volta”, desabafou o trabalhador. Ele e Maria Francinete, além de quase mais uma dezena de pessoas, lotavam a 1ª Delegacia de Polícia Civil, no bairro Santos Reis, na manhã da sexta-feira passada para o preenchimento de mais um Boletim de Ocorrência. “Só burocracia. Eles continuarão soltos”, disseram ambos quando questionados sobre a investigação dos crimes dos quais foram vítimas.