Todo
mundo curte boas histórias. Elas são deliciosas tanto para contar como
para ouvir. Algumas delas são tão boas que viram lenda: passam de pessoa
para pessoa, são repetidas várias vezes, variações – antes inexistentes
– são incorporadas e aquilo entra para a cultura de um lugar.
Reminiscências de uma época em que toda as informações eram passadas
boca a boca, sem que houvesse meios para checá-las e distribuí-las.
Natal,
pequena capital do Nordeste, é uma cidade que tem muitas dessas
histórias. Antes mesmo dos boatos de Whatsapp, ou dessa era de
ultra-informação que vivemos, algumas histórias se espalhavam com tanta
força que viravam lendas urbanas, muitas delas recheadas de um caráter
fantástico que as deixa bem saborosas de se ouvir mais de uma vez.
Outras, de tão absurda, viraram peças cômicas lembradas até hoje.
1 – Bebê diabo do Midway
É,
possivelmente, a lenda mais famosa da minha geração. Começou no ano de
2005, na véspera da inauguração do Shopping Midway Mall, que seria o
maior da cidade.
A
lenda consistia numa história bizarra do nascimento de um bebê com
chifres, pele grossa e um rabo. Após o parto, a enfermeira teria olhado
para ele e teria dito “que bebê feio” ao que ele respondeu “feio vai ser
o incêndio que vai derrubar o Midway no dia 26″. Depois ele teria ou
morrido, ou voado pela janela (!!!).
As
variações da história são muitas e ficou ainda mais bizarra quando a
lenda ganhou um detalhe inusitado: a vidente Mãe Diná teria dito, no
Gugu, que um grande shopping passaria por incêndio no Nordeste e cairia.
Ou seja, bebê diabo + Mãe Diná = Midway vai cair!!!
Isso
se espalhou como fogo na cidade pelo seu caráter cômico e bizarro e
gerou um movimento de misto de curiosidade e apreensão que fez da
inauguração do Midway um dos dias mais épicos de Natal.
2 – Viúva Machado
Eu
não conhecia a lenda da Viúva Machado até fazer a publicação no
Facebook que gerou este post (Facebook também é cultura!). Um motivo é
que ela não foi muito forte na minha época e nem na região que eu moro
em Natal. A Viúva Machado, ou papa figo, amedontrou as crianças
principalmente da região de Tirol e Petrópolis, entre os anos 70, 80 e
90.
Há
registros na internet da história, apesar das variações do verdadeiro
nome da viúva. O comum é que ela era muito velha, morava num casarão
antigo, tinha grandes orelhas de abano e “comia o fígado” das crianças
para se manter viva. O medo entre os mais novos era generalizado, porque
a senhora mal saía de casa e possuía uma aperência não lá muito
convidativa.
Há
duas versões para o nome dela: a mais provável é que se chamava Amélia
Machado, viúva do empresário português Manuel Machado, e que após a
morte do marido se trancafiou em casa.
A
outra é que o nome dela era Eulinda Lucina Machado e que teria casado
com 13 anos de idade, numa cerimônia pomposa do século XIX, e que o
marido teria morrido logo depois. Em função da tristeza, ela teria se
fechado dentro de casa e vivido por anos alimentando a lenda de que
comía fígado das crianças.
3 – Vampiro de Mãe Luiza
Essa
é uma das mais divertidas. Tem autor, tem data de publicação e tem, até
certo ponto, um motivo. Era anos 60 e o jornal Diário de Natal não
estava lá muito bem das vendas até que um dos seus repórteres, Sanderson
Medeiros, decidiu inventar uma historinha para movimentar a pacata
capital do Rio Grande do Norte.
A
história era de um vampiro que morava no morro de Mãe Luiza e descia
para Areia Preta. Ele teria sido visto em alguns bairros da região e até
fotografado. A lenda gerou uma comoção social na pequena cidade que fez
a tiragem do Diário de Natal sair dos seus 2 mil exemplares para 12
mil. A crença fez com que as pessoas voltassem mais cedo para a casa,
mobilizou a polícia na busca do suposto vampiro e tudo o mais.
Quando
a história tomou uma grande proporção, que mobilizou inclusive a
Secretaria de Segurança do Estado, foi hora de acabar com a brincadeira.
Sanderson, então, vestiu mais uma vez o jornalista Antônio Melo com a
capa preta do vampiro e publicou que ele estava indo embora para nunca
mais voltar.
4 – Carro à Hidrogenio
Essa
é uma história que tem mais elementos reais do que boataria. De
qualquer forma, virou uma lenda e que é repetida até hoje nos quatro
cantos da cidade.
Há
registros que em meados nos anos 60 e 70, o professor e engenheiro
formado pela UFRN, Nicanor Maia, desenvolveu um motor de carro movido a
água e chegou a dirigir um veículo com esse tipo de combustível nas ruas
de Natal.
Depois
disso, a história é um mistério, cheio de detalhes dignos de uma boa
teoria da conspiração. Há quem diga que, perseguido pela milionária
indústria de petróleo, ele teria sumido do mapa. Outros falam que ele
teria recebido dinheiro para não colocar a invenção para a frente.
Ninguém
sabe ao certo o que ocorreu depois da invenção e nem porque ela nunca
chegou ao mercado e a história, infelizmente, está se perdendo no tempo.
5 – Baracho
O
bandido que virou santo. João Baracho tocou terror em Natal nos anos
60, assaltava taxistas e uma série de assassinatos foi creditado ao
homem. Preso diversas vezes, ele escapava da prisão e amedrontava a
então pacata capital do Rio Grande do Norte. Quando morreu foi declarado
santo pela população.
Era
o dia 30 de abril de 1962, Baracho fugiu da cadeia e começou a ser
perseguido pela polícia até que foi cercado. Durante o cerco, tentou se
refugiar na casa de uma mulher, a quem pediu água. A moça negou o pedido
e entregou o bandido à polícia, que o matou com mais de 30 tiros.
O
fato de ter morrido com sede transformou-o num santo. Desde então (e
até hoje!!!) a população visita seu túmulo no bairro de Bom Pastor para
deixar garrafas de água e materiais simbólicos como agradecimento ao
supostos milagres que são creditados a ele.
6 – Sexo Fábrica Guararapes
Esta
tem ares de roteiro de filme pornô trash. Não dá para especificar muito
bem quando essa história começou a ser contada, nem o porquê. Sei que,
desde pequeno, ouvi falar sobre o azarado casal que ao tentar um estilo
sexual mais ousado, em plena fábrica, acabou se dando mal.
As
más línguas repetem até hoje a história de que o casal foi tentar sexo
anal, em plena fábrica, até que, por conta de um imprevisto intestinal,
ficaram presos um no outro.
A
partir daí, tiveram de se submeter ao constrangimento de chamar a
ambulância com todo mundo vendo, e a história varia em seu final: há
quem diga que ambos morreram, ou quem fale que o rapaz teve seu órgão
decepado. Ninguém sabe ao certo e nem se isso, de fato, ocorreu.
7 – Seringa contaminada no Moviecom
Parte
das lendas urbanas que costumam se espalhar por aí tem razões
comerciais. Em geral, é uma forma de prejudicar um concorrente novo e
que acabou de entrar no mercado ao colocar medo na população.
Em
Natal, desde a chegada do Carrefour e do MC Donalds, várias dessas
lendas surgiram, mas a que mais pegou – pelo menos na minha região e
entre o grupo que frequento – foi envolvendo os cinemas Moviecom no
Praia Shopping, assim que ele abriu.
Diziam
as más línguas que era preciso ter cuidado ao sentar numa poltrona do
cinema, porque em vários assentos haveria seringas contaminadas com HIV.
Isso
propagou medo na época entre frequentadores do local e houve gente que
jurasse de pé junto que a história era verdade, mesmo com o serviço de
limpeza que passava pelas salas em todo o final de sessão.
Fonte: Apartamento 702/Portal JH
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