sexta-feira, 7 de março de 2014

Ser humano ainda tem muito a evoluir', diz Arouca, após ser vítima de racismo


'Ser humano ainda tem muito a evoluir', diz Arouca, após ser vítima de racismo
Arouca comemora um dos gols do Santos na vitória sobre o Mogi Mirim, antes de ser vítima de racismo
Após ser vítima de ofensas racistas na saída do jogo diante do Mogi Mirim, nesta quinta-feira, Arouca se pronunciou sobre o caso. O volante do Santos, autor de um dos gols na vitória por 5 a 2, lembrou as páginas da história do futebol brasileiro escrita por negros como Pelé, Leônidas e Romário e afirmou que as ofensas acabaram com a "alegria" pela boa atuação santista e por seu tento, "o que deveria ser a essência do esporte".
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"Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros", disse, através de comunicado enviado por sua assessoria.
Na quinta, após a vitória santista, enquanto Arouca caminhava rumo ao vestiários, conversando com os jornalistas, alguns da arquibancada do Estádio Romildão o chamaram de "macaco". Tudo na frente de policiais que faziam a segurança do local, mas não se posicionaram. Segundo relatos de quem presenciou as ofensas, o jogador ficou desconcertado e, enquanto tentava falar com a imprensa, se voltou para a arquibancada à procura dos responsáveis pelo ato preconceituoso.
Leia, na íntegra, o comunicado de Arouca:
"Na saída do jogo desta quinta-feira, contra o Mogi Mirim, fui alvo de insultos racistas de um torcedor do time adversário. É lamentável e inaceitável que ainda haja espaço para esse tipo de coisa hoje em dia. Isso só mostra que o ser humano ainda tem muito a evoluir e a crescer, que não estamos nem perto de um mundo que viva a harmonia entre as pessoas e todas as suas diferenças.
Tenho muito orgulho das minhas origens africanas, que foi o que o sujeito tentou usar para me ofender, dizendo que eu deveria procurar alguma seleção de lá para jogar. Dando a entender que um negro igual a mim não serve para defender a seleção brasileira. Como se algumas das páginas mais bonitas da história da nossa seleção não tivessem sido escritas por jogadores como Leônidas, Romário e pelo Rei Pelé, também negros. Não ouvi os gritos de 'macaco' que alguns repórteres disseram ouvir, mas, caso tenha realmente acontecido, é ainda mais triste.
Eu sei muito bem de onde venho e de toda a minha luta para chegar onde cheguei. Por isso, sentir na pele o que aconteceu comigo hoje - logo depois do que fizeram com o Tinga outro dia e também do caso do juiz no Rio Grande do Sul - me deixa muito decepcionado. Acabou com a alegria pela boa atuação do nosso time, pelo belo gol que fiz, ou seja, pelo que deveria ser a essência do esporte.
O futebol é um espelho da nossa realidade, e isso não se resume apenas a xingamentos racistas. Continuam matando e morrendo por torcerem por um time diferente do outro. Espero, sinceramente, que casos como esse sejam severamente punidos, pois, enquanto isso não acontecer, nada vai mudar. A impunidade e a conivência das autoridades com as pessoas que fazem esse tipo de coisa são tão graves quanto os próprios atos em si. Somente discursos e promessas não resolvem a falta de educação e de humanidade de alguns.
Arouca"

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