O governo encerrou o ano de 2014 diante
de um fato inédito. Pela primeira vez, desde que o Bolsa Família foi
criado, em janeiro de 2004, houve uma queda anual no número de famílias
beneficiadas: de 14,1 milhões em 2013 para 14 milhões no ano passado. A
oscilação, ainda que pequena, contrariou as estimativas do próprio
governo, que esperava para o ano passado uma ampliação de mais de 500
mil famílias, ou 1,8 milhão de pessoas. Diante da disparidade entre as
projeções palacianas e os fatos, especialistas acreditam que o programa
tenha chegado ao seu limite. A principal razão para isso estaria nas
tendências demográficas. Reduziu-se o número de filhos nas famílias, o
que implica em aumento da renda per capita nos lares e,
consequentemente, na inelegibilidade ao benefício.
Levantamento feito com base em dados do
Ministério de Desenvolvimento Social (MDS) mostra que a queda não é
homogênea: foi puxada por Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Todos os Estados
das três regiões reduziram seu número de beneficiários. Distrito
Federal, Espírito Santo e Paraná tiveram a maior queda porcentual:
7,23%, 5,76% e 5,41% respectivamente. Contudo, nas regiões Norte e
Nordeste, apenas Amazonas, Tocantins, Ceará e Rondônia conseguiram
reduzir a quantidade de bolsas.
O aumento do Bolsa Família nas regiões
mais carentes mostra que os grotões do país estão mais suscetíveis aos
solavancos no mercado de trabalho. Dados do Cadastro Geral dos
Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, no Estado de São Paulo,
por exemplo, a criação de emprego desacelerou de 2,8% para 1,75% entre
2013 e 2014. Tal movimento, no entanto, não impediu que o número de
bolsas recuasse 2,9% no mesmo período. Já no caso de Sergipe, em que a
engrenagem do emprego desacelerou de 4,95% em 2013 para 3,58% no ano
passado, o número de beneficiários subiu 4%.
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