sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Cemitério do Alecrim: uma história que começou pelos mortos


O professor Evaldo Rodrigues de Carvalho, em seu livro "Alecrim ontem, hoje e sempre", de 2004, conta que a proposta de construção do cemitério, até então sem nome, surgiu após um surto de cólera em 1855, ano em que foi autorizada a obra. A inauguração só aconteceu em abril de 1986, segundo documentou o historiador Câmara Cascudo.

Na época do surto de cólera, raríssimas pessoas habitavam o descampado onde hoje é instalado o Alecrim, constituído, à época, por roçados e algumas casinhas de taipa. Eram anos em que o centro da capital ainda se concentrava nas regiões baixas e costeiras, como o bairro da Ribeira.

Ainda de acordo com a obra de Cascudo, o cemitério ficava tão distante do centro da cidade que um carro fúnebre teve de ser providenciado para o transporte dos corpos. Outras vezes, a história conta, o trem era usado para que o transporte.
Foto: Elpídio Júnior
O túmulo, mal conservado, não reflete seu valor, mas é sempre visitado por moradores

Antes da chegada do cemitério, os mortos da capital potiguar eram simplesmente sepultados nas áreas próximas às Igrejas. O surgimento de um lugar específico, a boa localização, alta e afastada da cidade, fez do local a morada final de ilustres personagens da história potiguar e até mesmo brasileira.

Lá repousa o único presidente República potiguar da história do Brasil: Café Filho. Também está sepultado no Alecrim o soldado-mártir Luiz Gonzaga, morto na Intentona Comunista e o ex-prefeito “de pé no chão também se aprende a ler” Djalma Maranhão.

O pioneiro no processo de industrialização no Rio Grande do Norte, Juvino Barreto, também repousa no mais ilustre cemitério da cidade. Assim como também Januário Cicco, fundador dos dois primeiros estabelecimentos hospitalares de porte em Natal, repousa no bairro centenário. Além do poeta Henrique Castriciano e do historiador Câmara Cascudo.

Foto: Elpídio Júnior

Mas mesmo com tantos nomes conhecidos na história, os hóspedes que mais trouxeram burburinhos as ruelas do cemitério foram os soldados americanos mortos durante a Segunda Grande Guerra Mundial. De acordo com registros, os militares ocuparam ao todo 11 túmulos. Hoje restam poucos, pois alguns restos mortais foram solicitados pelas famílias. Mesmo assim, quem passa atento pelas lápides vai identificar os forasteiros.

Ao longo da história, grandes comerciantes que se instalaram no bairro, e mesmo as simples pessoas com tradição pelo Alecrim, passaram a ser sepultadas no cemitério do bairro. Assim, atualmente existem, por exemplo, diversos mausoléus exclusivos, como o da Liga Operária, o da Irmandade dos Passos e outro para a Maçonaria.
Foto: Elpídio Júnior

O professor Evaldo Rodrigues de Carvalho conta que em 1941, o prefeito de Natal Gentil Ferreira, fez a primeira grande reforma do cemitério. Na época, a população de sepultados já era significativa e o gestor achou conveniente abrir várias ruas entre os túmulos e aumentar a área construída.

Atualmente, o cemitério serve como morada de pessoas de todas as camadas sociais. Já passou por diversas reformas, mas continua a sentir os efeitos de ter sido a primeira das boas moradas para os mortos natalenses.

Após a construção do cemitério a região passou a ser mais frequentada e a ganhar novas construções. Vieram o Grupo Escolar Frei Miguelinho (1913), Igreja de São Pedro (1919), Hospital Policlínica do Alecrim (1934), Base Naval de Natal (1941); além do Relógio do Alecrim (1965), localizado na Praça Gentil Ferreira e palco de eventos populares, artísticos, religiosos e atos políticos.

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