Turistas em gôndolas em Veneza (Foto: Tony Gentile/Reuters)
As últimas imagens de Veneza publicadas na imprensa de pessoas urinando
nas leixeiras, lavando-se nos canais e inclusive cozinhando nas ruas
levaram as autoridades italianas a desenvolver a ideia de colocar um fim
ao turismo de massa que está degradando a cidade.O jornal "Corriere del Veneto" está publicando nesses dias galerias de fotos sob o título: "O verão da degradação" para denunciar o que está acontecendo na cidade dos canais.
Longe da idílica imagem da cidade do amor e da cultura, Veneza sofre com o ataque do turismo em massa e com a má educação de seus visitantes, denunciam os meios de comunicação italianos.
Sexo e urina
A
Ponte dos Descalços, em Veneza, onde um casal de turistas foi flagrado
fazendo sexo durante o dia (Foto: Yves Talensac / Photononstop/ AFP)
A indignação sobre a situação de Veneza começou com a publicação
recente da foto de duas pessoas que em pleno dia praticavam sexo na
Ponte dos Descalços, uma das quatro que cruzam o Grande Canal, sem que
ninguém dissesse nada ou a polícia tomasse uma providência.Após este fato, a imprensa continuou publicando vídeos e fotos que mostram turistas urinando nos cestos de lixo, pessoas acendendo fogareiros para aquecer um prato de massa, um senhor que se lava nos canais, pessoas tomando sol de maiô no meio rua ou inclusive um salto ao canal da famosa ponte desenhada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.
Outras imagens mostram como bicicletas, carros e motos passam pelas vielas de Veneza, apesar de ser totalmente proibido.
Após a publicação destas fotos, a secretária de Estado de Patrimônio, Atividades Culturais e Turismo da Itália, Ilaria Borletti Buitoni, afirmou que é necessário abrir um debate sobre a possibilidade de regular os fluxos turísticos para tutelar a cidade, declarada patrimônio da humanidade pela Unesco.
"É necessário começar com um sério e construtivo debate que dê a Veneza os instrumentos para tramitar o que é sua fonte de desenvolvimento econômico, e evitar que isto não vá em detrimento do patrimônio único e cultural da cidade", explicou Buitoni.
Cobrança
Vista da Praça de São Marcos, em Veneza (Foto: Tony Gentile/Reuters)
O presidente da região do Vêneto, cuja capital é Veneza, Luca Zaia, indicou a possibilidade de organizar "um número programado de turistas" para evitar as massificações.
No entanto, Zaia criticou duramente algumas propostas sobre a introdução de um "ticket" para entrar na cidade como medida para conter a chegada em massa de turistas. "Temos a obrigação de garantir o acesso a todas as classes sociais. A ideia de uma Veneza só para poucos ricos é vergonhosa", disse Zaia.
No entanto, para Claudio Scarpa, presidente da Federalberghi, associação de hosteleiros de Veneza, "seria justo que todos os visitantes pagassem um ingresso".
"Os turistas que vêm passar o dia em Veneza sem ficar para dormir, custam muito mais em questão de serviços e deixam menos. É justo que paguem um ingresso", afirmou Scarpa.
Atualmente em Veneza existe uma taxa de alojamento para os visitantes que vai de 1 a 5 euros a cada noite, dependendo das estrelas do hotel. Segundo os dados da Federalberghi Veneza, de cada dez turistas que chegam à cidade dos canais, sete não ficam para dormir e fornecem só 30% do faturamento turístico total à cidade.
Marco Michielli, vice-presidente de Confturismo, associação que reúne restauradores e hoteleiros, ressaltou como há anos pede que seja "regulamentado o acesso a Veneza" e lembrou que a Serenissima, com apenas 50 mil habitantes, "suporta a cada dia uma média de 60 mil turistas e tem dias que chega aos 100 mil".
Por enquanto as diferentes vozes em Veneza não estão de acordo sobre como enfrentar o problema, mas para a secretária de Estado italiana a questão é urgente: "Veneza está morrendo e é preciso enfrentar o problema imediatamente, não se pode mais esperar".
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