O
Banco Mundial, organismo internacional que facilitou ao Governo do RN o
maior financiamento da história do Estado em 2013, divulgou na sua
página oficial na internet uma reportagem mostrando o trabalho exitoso
de combate aos efeitos da seca desenvolvido na cidade seridoense de
Cruzeta.
O
texto mostra as histórias de agricultores que, auxiliados por diversos
órgãos, conseguiram enfrentar uma das maiores estiagens que atingiram o
RN nos últimos 50 anos. "O trabalho do Banco Mundial com o Governo do RN
está só começando e as dozes cadeias produtivas que o projeto RN
Sustentável contemplam vão passar por um salto de desenvolvimento sem
comparativo", comemorou a Governadora Rosalba Ciarlini. "Muitas
histórias como essas serão de conhecimento de todo mundo".
Nas
próximas semanas, os grupos de trabalho do Projeto RN Sustentável vão
apresentar à Governadora os primeiros resultados da implantação do
projeto, que será lançado em 12 cidades-pólo do Rio Grande do Norte. Em
paralelo, o Comitê de Combate aos Efeitos da Seca, coordenado pela
Governadora Rosalba Ciarlini, dará suporte aos gestores e agricultores
no interior do estado enquanto as chuvas não chegam.
Confira abaixo a reportagem do site do Banco Mundial:
O Brasil apela à tecnologia para combater a falta de água no Nordeste
O
agricultor Jean Carlos de Azevedo é uma espécie de arquivo histórico
ambulante sobre as secas que afetaram o semiárido potiguar nas últimas
quatro décadas.
“Meu
pai, já falecido, recebeu um lote nos arredores de Cruzeta em 1976. Até
1992, os cultivos eram irrigados todos os anos. Em 1994 começamos a
irrigar de novo, mas em 1998 paramos. Voltamos a irrigar em 2004, até
2012. Em janeiro de 2013, tivemos de parar mais uma vez.”
Azevedo
vive numa região onde caem, em média, menos de 800 mm de chuva por ano –
um volume de precipitação similar ao de países africanos ao sul do
Saara –, e onde praticamente não chove entre julho e dezembro.
Segundo
a ONU, a atual seca é a pior no Brasil nos últimos 50 anos. Também
representa o fenômeno natural que mais afetou os brasileiros em 2012
(quase 9 milhões de pessoas), segundo o Anuário Brasileiro de Desastres.
Em
meio a essa situação, as terras da família de Azevedo não recebem nem
uma só gota de água. O açude da região baixou a níveis mínimos devido à
ausência prolongada de chuvas.
Neste
momento, a população urbana de Cruzeta (uma cidade de 8.000 pessoas, no
Sertão potiguar) tem prioridade para usar a água, segundo as
autoridades. Em segundo lugar vêm os animais. Em terceiro lugar, a
indústria. A agricultura está no fim da lista.
“A
seca deste ano foi a pior de todas. Nós, que passamos por isso várias
vezes, nos acostumamos, mas ainda sofremos”, diz Azevedo. Um recente
estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) confirma essa percepção sobre a seca que afeta o Nordeste desde 2011.
Além
disso, a variabilidade das chuvas e a intensidade das secas continuarão
aumentando até 2050, com efeitos graves para a população, se os
governos locais não investirem em infraestrutura e gestão hídrica,
segundo previsões de especialistas no relatório Impactos da Mudança Climática na Gestão de Recursos Hídricos: Desafios e Oportunidades no Nordeste do Brasil, do Banco Mundial.
Esse é um dos poucos estudos sobre os efeitos climáticos, hidrológicos e socioeconômicos do aquecimento global nos estados mais pobres do país.
O
documento analisa a bacia de Piranhas-Açu, onde está Cruzeta, e
Jaguaribe, no vizinho estado do Ceará. Os pesquisadores do Banco
Mundial, da ANA, da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos
Hídricos e da Universidade Federal do Ceará, entre outras instituições,
analisaram as precipitações e a seca no período de 1971 a 2000 e
compararam isso com uma projeção para 2041-2070.
Os
produtores de Cruzeta inovam ao procurar a melhor maneira de operar o
açude coletivo: focando no abastecimento prioritário da cidade e ao
mesmo tempo otimizando o uso da irrigação para evitar maiores prejuízos
em anos de seca.
O
estudo mostra que nos próximos anos a bacia de Piranhas-Açu vai sofrer
uma maior perda de água no solo e nas plantas – um fenômeno que os
especialistas chamam “evapotranspiração”. Entretanto, se forem
realizados constantes investimentos na modernização da irrigação, a
demanda pela água na agricultura pode diminuir 40%.
Preservar
esse recurso natural tão valioso é um dos principais objetivos de
Vitoriano Alves dos Santos, colega do Azevedo na Associação de
Produtores de Cruzeta. “Ainda tenho acesso a uma fonte de água, mas me
aflige ver a quantidade gasta todos os dias com a irrigação”, diz.
Trabalho inspirador
A
boa notícia é que a região começou a trabalhar para ajudar os
agricultores locais a cultivarem com menos água. Um programa financiado
pelo Banco Mundial apoia os produtores locais na compra de equipamentos
que economizam água, dá assistência técnica na gestão hídrica e auxilia a
expansão da rede elétrica na área do projeto.
Serão
atendidos 23 pequenos produtores, que cultivam lotes com uma média de 5
hectares cada. A iniciativa pode servir de modelo para programas
similares em todo o Nordeste do Brasil e em outros países atingidos por
secas recorrentes.
“Os
produtores de Cruzeta inovam ao procurar a melhor maneira de operar o
açude coletivo: focar no abastecimento prioritário da cidade e ao mesmo
tempo otimizar o uso da irrigação para evitar maiores prejuízos em anos
de seca. Esse trabalho pioneiro pode orientar várias comunidades que
dependem de pequenos açudes para seu sustento”, diz Erwin de Nys,
especialista em recursos hídricos no Banco Mundial.
Emocionado,
Jean Azevedo considera que o novo projeto ajudará os produtores que
continuam procurando oportunidades no campo. “Quero ficar, porque nasci
aqui e estou contente de trabalhar a terra”, diz.
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