O conformismo estava longe de chegar ao
lugar onde parentes, amigos e vizinhos se despediam do adolescente de 16
anos que almejava ser marinheiro. O sonho foi interrompido no fim da
tarde da quarta passada, após acidente envolvendo um amigo, identificado
nesta matéria como “T” para preservar sua identidade, que manuseava uma
arma de fogo dentro da Escola Estadual Professor Raimundo Soares, em
Cidade da Esperança. Vítima e acusado eram amigos de infância, mas Erick
Bruno Pontes não resistiu ao ferimento no peito, mesmo socorrido.
Adriano AbreuCorpo do estudante Erick Bruno Pontes foi sepultado ontem, no cemitério do Bom Pastor
O velório durou entre as 4h e as 16h de
ontem no Centro Pastoral do mesmo bairro, reuniu direção da escola,
familiares e colegas, vários em busca de um culpado e tantos indignados.
O sepultamento ocorreu a tarde no cemitério do Bom Pastor. Prestes a
completar 17 anos no próximo dia 15, Erick tinha um boletim exemplar,
era quieto, e carinhoso, conforme relatos da família e amigos. Em um
canto do velório, cerca de dez estudantes dividiam lágrimas, risos e
lembravam os últimos momentos com o colega.
“Estava eu, Erick, o menino que atirou e
uma menina conversando besteira, como sempre ficava, e chegou o assunto
da arma. Erick não acreditou que fosse de verdade e disse: ‘duvido que
você coloque ela no meu peito’”, conta Alisson Rodrigo, colega de 17
anos que estava na roda de conversa. “Aí depois Erick disse ‘duvido que
você tem coragem de apertar o gatilho’, e quando ele [o suspeito]
acionou a arma, ela disparou sem querer”. A lembrança foi seguida de
mais choro.
A coordenadora Sandra Maciel conta que
estava na direção quando uma aluna chegou, chocada, pedindo socorro e
avisou que Erick havia sido baleado. Após alguns alunos exitarem,
descobriu-se que o disparo teria sido efetuado por “T”. Ferido, ele foi
socorrido por um professor à UPA de Cidade da Esperança e depois levado
ao pronto-socorro Clóvis Sarinho, onde morreu momentos depois de dar
entrada.
Ao perceber o que tinha feito, o
suspeito segurou o amigo, pediu desculpas diversas vezes, o deixou no
chão e saiu correndo. Desde então é procurado pela Polícia Militar.
Segundo vizinhos de “T”, ele foi visto encontrando a mãe em um mercado
na região e teria dito: “mãe, fiz uma merda!”. Moradores do bairro
contam que, depois disso, os dois chegaram correndo em casa e logo
saíram em um carro, supostamente rumo à Paraíba.
Mas o vice-diretor da escola, Tassio
Paulo, conta que, quando a PM procurou a família do suspeito por
telefone, uma tia disse que “se for sobre ‘T’, ele acabou de ir para
Recife com a mãe”. Militares fizeram diversas buscas pelo adolescente
suspeito, inclusive em campana em frente à casa dele, mas não foi
encontrado, assim como seus pais. A vizinhança afirma que a maioria da
família paterna é recifense. A PM também fez buscas nas casas de tios do
acusado, mas nem o suspeito, nem os pais, foram encontrados.
Erick foi criado por uma mãe adotiva,
segundo a tia biológica Maria do Socorro Pontes. “Nilda, que é como uma
irmã para a gente”. Ela conta que o pai já havia morrido e a mãe
precisava trabalhar. Inicialmente a criança ia passar uns dias na casa
da amiga da família, mas com as visitas cada vez mais frequentes, ele
passou a morar definitivamente na Esperança. “Nos feriados ele ia ficar
com a gente, sempre que tinha uma festa da família ele também ia. Nunca
se afastou da gente”.
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