terça-feira, 1 de julho de 2014

O legado e os desafios 20 anos após a criação do Real


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Houve um tempo no Brasil em que fazia diferença ir ao mercado pela manhã ou à tarde. A inflação era tanta que, em questão de horas, os preços subiam. A estratégia que permitiu estabilizar a inflação do país de forma permanente foi o Plano Real, que hoje completa 20 anos. Se em junho de 1994, mês anterior à entrada em vigência do plano, a inflação foi de 47,43%, o país chega em maio de 2014 com esse número na casa de 0,46%. E embora a inflação tenha subido nos últimos meses, especialistas garantem: ela está sob controle. Eles também apontam, no entanto, para a necessidade de reformas como forma de o Brasil ganhar um novo impulso econômico.
Eraldo Peres/CB/da pressFernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda quando o Real começou a ser arquitetadoFernando Henrique Cardoso era ministro da Fazenda quando o Real começou a ser arquitetado

O Plano Real foi um programa de estabilização econômica que teve como principal objetivo o controle da hiperinflação. Entre outras medidas, o plano criou a Unidade Real de Valor (URV), moeda virtual que serviu para a transição entre o Cruzeiro Real e o Real.

Só para se ter uma ideia, em 1993 a inflação do ano foi de 2.477,15%. Pouco antes da implantação do plano, a inflação de junho de 1994 chegou à casa dos 47,43%. Depois que passou a vigorar, o plano forçou a inflação para baixo. Em julho do mesmo ano, ela alcançou 6,84% e em agosto, 1,86%.

Na avaliação do economista e chefe no RN do Insituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Aldemir Freire, o controle da inflação é o grande legado do plano. “A rigor, o Plano Real já acabou. A lógica do plano já não existe e desde 1999 se adota regimes de meta de inflação. Mas como forma de estabilização de inflação, foi uma estratégia muito bem sucedida”, analisou. 

Efeitos
De imediato, os efeitos foram o aumento da renda e do consumo. “Outro elemento importante é que, com o fim da inflação, foi possível que governos e empresas  fizessem um planejamento de médio e longo prazo”, explica.

O supervisor técnico do  Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese/RN), Melquisedec Moreira, ressalta que,  embora tenha havido uma melhora no início do Plano Real, nos anos seguintes houve diminuição do poder de compra do potiguar. 

“O salário mínimo, que é referencia básica para os pisos salariais no RN, durante a década de 1990 até 2002, comprava apenas uma cesta básica. Em alguns meses o salário mínimo era insuficiente para comprar essa mesma cesta básica em Natal”, disse. “Ao mesmo tempo em que debelava a inflação, o modelo gerava efeitos que fragilizavam a economia”, completou.

O ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, declarou ontem que, embora o plano tenha proporcionado estabilização, ainda há muito trabalho pela frente, já que o Brasil continua sendo um país de renda média baixa, desigual e com carências. “Temos uma situação fiscal que vem perdendo credibilidade e inflação alta, apesar da retenção de preços. Se não estivesse sendo tabelada, seria provavelmente superior a 7% - número alto apesar de menor do que antes do Plano Real”, disse à Agência Estado.  O também ex-presidente do BC, Gustavo Franco, lembrou à Agência que, “passados 20 anos, está na hora de nova onda de reformas porque se esgotou o impulso do crescimento”. “Esse período longo que vivemos descansando de fazer reformas pode ter acomodado as coisas, mas exaurimos as possibilidades criadas pela onda associada ao Plano Real”, disse.

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