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O Caso das Crianças do Planalto, como ficou conhecido no estado, é uma
das páginas mais intrigantes da crônica policial potiguar. Depois de o
inquérito passar pelas mãos de mais de 10 delegados ao longo de todos
estes anos, a atual responsabilidade de dar um desfecho diferente ao
mistério está com o delegado Ben-Hur Cirino de Medeiros, titular da
Delegacia Especializada em Capturas e Polinter, a Decap.Na última quarta-feira (16), a Polícia Federal entrou no caso para dar suporte técnico e coletou amostras de DNA de familiares das crianças. O material ficará armazenado em um banco de dados para ser utilizado nas investigações.
Em março, o desaparecimento das cinco crianças foi lembrado pela Igreja Católica durante o lançamento da Campanha da Fraternidade 2014 no estado. A cerimônia aconteceu justamente na Paróquia do Planalto e contou com os familiares dos três meninos e das duas meninas que sumiram misteriosamente.
“Como o tema deste ano é Fraternidade e Tráfico Humano, a Igreja Católica está cobrando uma solução para o caso”, disse Tafnes Nóbrega, secretária da Campanha no Rio Grande do Norte. Até hoje a polícia potiguar não tem respostas para o que aconteceu, mas não descarta a possibilidade de as crianças terem sido vítimas de tráfico de pessoas. Atualmente, de acordo com a ONU, 2,5 milhões de pessoas em todo o mundo são vítimas do tráfico humano.
O mistério das Crianças do Planalto, como ficou conhecido o caso, começou em novembro de 1998, quando Moisés Alves da Silva, de 1 ano e 7 meses, foi levado de dentro da casa na qual morava. Ele dormia com os pais e os irmãos. Em janeiro do ano seguinte foi a vez de Joseane Pereira dos Santos, de 8 anos, ser levada da casa de uma vizinha. O terceiro sumiço aconteceu em janeiro de 2000, com o rapto de Yuri Tomé Ribeiro, de 2 anos. Três meses depois, o pequeno Gilson Enedino da Silva, 2 anos, também desapareceu. O último caso aconteceu em dezembro de 2001, quando Marília da Silva Gomes, de 2 anos, também sumiu misteriosamente de dentro de sua residência. Ela dormia com a mãe, os irmãos e o padrasto.
Lindalva e Geraldo ainda têm esperança de
encontrar a filha (Foto: Magnus Nascimento)
Lindalva Florêncio da Costa tem atualmente 55 anos. Há pouco mais de
dois anos ela sofreu um AVC e quase morreu. Passou por uma cirurgia
complexa que lhe deixou sequelada – uma dormência permanente nas pernas.
Até hoje ela tem dificuldades para andar. Ao longo da vida, engravidou
doze vezes, mas acabou perdendo três bebês quando ainda estava gestante.
Uma queda de bicicleta, uma hemorragia e a hepatite lhe fizeram abortar
as crianças. Foram muitas as dores na vida de Lindalva. Porém, para
ela, nada disso importa. O sofrimento que ainda não superou é um só: o
sumiço da filha Joseane. Se viva estiver, ela já terá completado 23
anos.encontrar a filha (Foto: Magnus Nascimento)
“Eu tenho fé. Meu coração me diz que ela está em algum lugar fora do país, mas que ainda está viva. Bem viva”. As palavras que exalam esperança soam em meio a muitas lágrimas. Reaberto em 2011, o inquérito ainda não aponta suspeitos. E até hoje a Polícia Civil não sabe, de fato, o que aconteceu com Joseane, ou simplesmente Biba, como era carinhosamente chamada a filha de dona Lindalva, e com as outras quatro crianças que desapareceram no Planalto.
Segundo as investigações, quatro das cinco crianças dormiam quando teriam sido raptadas. Apenas Joseane estava acordada quando foi levada. “Ela estava na casa da vizinha, assistindo o DVD do Tiririca”, relembrou Lindalva, emocionando-se com a dolorosa recordação.
O pai de Joseane, o feirante Geraldo Santos, também tem esperança de um dia encontrar a filha. “Tenho certeza disso. Ela está em outro país. Eu acredito que a levaram para algum casal que não podia ter filhos”, declarou, referindo-se ao tráfico internacional de crianças. Questionado se acredita na possibilidade de Joseane ter sido morta – para que seus órgãos pudessem ter sido comercializados – o vendedor de frutas agarrou-se à fé em Deus. “Nunca pensei nisso. Minha filha está viva. E um dia voltaremos a vê-la. Pode passar mais treze anos, mas um dia estaremos juntos de novo”, disse Geraldo.
O Caso das Crianças do Planalto é uma das páginas mais surpreendentes e intrigantes da crônica policial potiguar. Depois de o inquérito passar pelas mãos de mais de 10 delegados ao longo de todos estes anos, a atual responsabilidade de dar um desfecho diferente ao mistério está com o delegado Ben-Hur Cirino de Medeiros, titular da Delegacia Especializada em Capturas, a Decap. Ele disse não ter novidades sobre o caso.
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