Uma corrente e dois cadeados prendem a perna esquerda da menina à
cadeira de metal. O corpo franzino quase não tem forças para arrastar o
objeto pela sala. O atrito das correntes com o piso produz um som
perturbador. Há três meses, Vanessa (nome fictício), 16 anos, é mantida
acorrentada dentro da própria casa. A chave dos cadeados estão com a
mãe. Foi ela quem decidiu acorrentar a filha. Uma atitude extrema e
desesperada com o objetivo de tentar salvar a filha de uma outra prisão:
as drogas.
Usuária de maconha e crack há mais de quatro anos, a menina foge de
casa e age com violência sempre que está livre. Acorrentada, Vanessa é
mantida sob a vigilância da mãe, avô e irmãos. A história dramática é
mais um exemplo do potencial de devastação das drogas e revela o lado da
sociedade onde as políticas públicas de combate ao uso de entorpecentes
não chegam.
“Minha filha começou a se drogar quando tinha 12 anos. No início era
só maconha e não tinha tanto problema, mas, de uns tempos para cá,
percebi que ela começou a usar outras drogas e ficou mais agitada e
agressiva. Não era assim no início, mas ela passou a me xingar, brigar e
quebrar as coisas. Eu não sabia mais o que fazer. O jeito foi
acorrentar”, conta a dona de casa que prefere não expor a identidade.
A mãe perdeu as contas da quantidade de vezes que a filha fugiu de
casa para se drogar. A família mora num dos bairros de maior
vulnerabilidade social da zona Oeste da capital. Encontrar quem ofereça
uma pedra de crack não é difícil. Trancar portas e janelas para evitar a
fuga já não adiantava.
“Ela destelhava o teto e saía por cima. Pulava para casa vizinha e ia
embora. Só voltava se a gente fosse atrás”, lembra a dona de casa e mãe
de mais dois filhos – um jovem de 15 anos e uma menina de 12. “Quando
tentava conversar, ela me esculhambava. Fazia coisa que eu nunca
imaginava que seria possível”, completa.
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