O
Padre Frans Van der Lugt, da Companhia de Jesus, era até hoje,
presume-se, o único Europeu que permanecia na martirizada cidade de
Homs, na Síria. Ele tinha 75 anos de idade e vivia neste País, agora
destroçado pelo absurdo da guerra, desde 1966. Na manhã deste 7 de
Abril, um bando armado entrou na casa onde residia e em que, sem
distinção alguma de religião, o Padre Frans quotidianamente apoiava
centenas de pessoas. O nosso Padre «Francisco», pois assim também era
conhecido em toda a Homs, foi arrastado para fora da residência,
espancado e assassinado com (ao que parece) dois tiros na cabeça. O
Padre Van der Lugt fez sempre questão de não abandonar a cidade, e o
povo, que serviu ao longo de quase quarenta anos. Os seus companheiros,
depois da destruição da cidade pelos múltiplos bombardeamentos da guerra
civil ainda em curso, tinham partido, mas ele decidiu ficar. A grande
maioria dos cristãos tinha já saído também; mas, segundo me dizem,
permaneciam na cidade pouco mais de seis dezenas de cristãos. Nos
últimos dois anos, a residência da Companhia de Jesus em Homs, de que o
Padre Frans era Superior, acolheu centenas e centenas de pessoas em fuga
da terrível guerra que reduziu grande parte da antiga cidade síria à
mais desconfinada miséria. Há semanas lançou um apelo através do Youtube
contra o pior que lhe estava a ser dado experimentar, em si e em
milhares de outras pessoas: a fome sem remédio, a angústia de ver morrer
incontáveis pessoas, sobretudo crianças, esfomeados de tudo, a começar
por aquela quantidade mínima de alimento que, mesmo nas piores
circunstâncias, dá garantia de sobrevivência. Segundo me foi contado por
quem o conhecia pessoalmente, e o amava profundamente, os assassinos
que, literalmente, o foram buscar a casa, deram ordem para que, de
imediato, abandonasse a cidade. Mas de Homs e dos seus habitantes, todos
martirizados por causa de uma das guerras mais obscenas da história
contemporânea mais recente, o Padre Frans disse que separar-se não
podia. Terá sido esse o momento em que os assassinos lhe dispararam para
matar. Nunca tive o gosto de conhecer pessoalmente o Padre Van der
Lugt, mas sei que este cidadão da Holanda deu o melhor da sua vida na
Província do Médio Oriente da Companhia de Jesus, primeiro no Líbano,
onde aprendeu o árabe, e depois na Síria. A obra por ele realizada é
imensa, tendo-lhe servido, dizem, de modo muito particular a excelente
formação académica que tinha como Psicoterapeuta, formação essa que,
certamente, lhe permitiu ajudar incontáveis pessoas em situação de
extrema ansiedade.
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