quarta-feira, 23 de julho de 2014

Fragmentos do Nordeste na Amazônia


Fragmentos imagéticos coletados pelo fotógrafo Henrique José, nas incursões que vem promovendo pela região Norte, dão forma à exposição “Casa de Cabôco”. Em cartaz a partir desta quarta-feira (23) no Mercado da Foto, box número 7 do Mercado de Petrópolis, os instantâneos estão inseridos em um contexto maior – de pesquisas no campo da Antropologia Visual – onde o autor busca identificar o grau de interferência dos nordestinos na construção da identidade cultural Amazônica. O recorte estético proposto por Henrique revela, a partir de grafismos e abstrações geométricas, detalhes das casas onde vivem descendentes e imigrantes que fugiram da seca e encontraram um ambiente de abundância.
Henrique JoséEm “Casa de Cabôco”, fotógrafo e antropólogo Henrique José expõe imagens que captam a presença  dos nordestinos na construção da identidade cultural AmazônicaEm “Casa de Cabôco”, fotógrafo e antropólogo Henrique José expõe imagens que captam a presença dos nordestinos na construção da identidade cultural Amazônica

A visitação segue até o dia 8 de outubro, e cópias certificadas das imagens, impressas em Fine Art (pigmentação mineral sobre papel de fibra de algodão), estarão à venda no tamanho 30 cm x 45. “Além da exposição em si, aproveito a ocasião para começar a mexer nos meus arquivos e movimentar o Mercado da Foto, que oferece cursos e também funciona como galeria”, disse o fotógrafo, que pinçou imagens feitas no Pará, Acre, Amazonas e Rondônia.

A pesquisa nos rincões amazônicos iniciou há quatro anos, quando Henrique fez a primeira viagem pela região. “No interior do Pará comecei a sistematizar esse registro, que vai subsidiar projeto para um futuro Doutorado na área da Antropologia Visual. Estou na fase de coleta de material e pesquisa”, informou o também professor universitário e um dos diretores da Ong ZooN Fotografia.

José cita obras do carioca Euclides da Cunha (1866-1909) como elemento norteador da visão que quer imprimir ao trabalho. “O escritor publicou um livro muito bonito sobre o Nordeste, mas não chegou a concluir outro sobre o Norte. Ele traça paralelos, desde aspectos ambientais, e pontua essa influência cultural que estou buscando. Fala das dificuldades que provocaram migrações, a relação do homem com a natureza... estou seguindo este caminho”.

Para se ter uma ideia de como as duas regiões estão interligadas, afinal as migrações remontam ao século 19 e ganham novo impulso com o ciclo da borracha na década de 1940, o fotógrafo acrescenta que “até os anos 1970, quando hasteavam a bandeira do estado do Acre, também subia a bandeira do Ceará. Praticamente 80% da ocupação inicial do Acre foi feita por cearenses. Minha ideia é buscar vestígios gráficos da construção dessa identidade e dessas interferências. Um bom exemplo é o forró, ritmo tão forte por lá como aqui”.

O fotógrafo segue a mesma linha de pesquisa adotada em 2009 quando fez Mestrado no Departamento de Antropologia da UFRN com estudo do registro etográfico de mulheres coletoras de mangaba no Projeto Mangabeiras.

Serviço
Exposição fotográfica “Casa de Cabôco”, de Henrique José. Em cartaz a partir de hoje no Mercado da Foto (box 7), Mercado de Petrópolis – Av. Hermes da Fonseca, 804. Visitação em horário comercial até dia 8 de outubro. Informações: mercadodafoto.com.br

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