domingo, 23 de março de 2014

Marcha da Família reúne nove pessoas em Natal


Marcha da Família reuniu nove pessoas neste sábado (22) em Natal (Foto: Fred Carvalho/G1)Marcha da Família reuniu nove pessoas neste sábado (22) em Natal (Foto: Fred Carvalho/G1)
Nove pessoas participaram da Marcha da Família com Deus pela Liberdade na tarde deste sábado (22) em Natal. O grupo se reuniu após convites feitos por redes sociais. Atos semelhantes ocorrerem em outras cidades do país.
Os nove homens - oito militares da reseva do Exército e um estudante de medicina de uma universidade particular - se reuniram em frente à 24ª Circunscrição de Serviço Militar, no bairro da Ribeira, zona Leste da cidade. O encontro durou cerca de meia hora e foi encerrado com um abraço simbólico à unidade militar.
"Sei que o número é inexpressivo, mas estamos aqui para mostrar que estamos insatisfeitos com a atual política do governo brasileiro. O país passa por uma crise constitucional, com o aumento da violência e da corrupção. O que queremos é que o Brasil seja moralizado", falou o segundo-tenente da reserva do Exército Luis Klinger, de 55 anos.
Luis Klinger organizou encontro em Natal (Foto: Fred Carvalho/G1)Luis Klinger organizou encontro em Natal
(Foto: Fred Carvalho/G1)
Para ele, a "moralização" se daria a partir de intervenções das Forças Armas em áreas estratégicas. "Na minha opinião, não é preciso que se volte ao regime militar. Mas sou favorável que os militares controlem as áreas estratégicas de educação, saúde e segurança. É a única forma de fazer o país crescer com ordem", opinou.
O capitão Arlindo Vital, de 77 anos, disse que o Brasil hoje está "desarticulado em todos os sentidos". "A nossa situação não é fácil. Há corrupção nos três poderes. A única solução que enxergo é que o país seja governado por um homem de bem, de boa índole, de boa reputação. Na minha opinião, só Joaquim Barbosa [presidente do Supremo Tribunal Federal (STF)] e o general Augusto Heleno [ex-comandante militar da Amazônia] têm esse perfil", afirmou.
O estudante de medicina Silvestre Cabral Neto, de 23 anos, se disse contrário à volta dos miliatres ao poder. "Os militares já tiveram a vez deles, mas infelizmente não obtiveram resultados muito positivos. Mas as Forças Armadas têm a obrigação constitucional de fazer valer a lei. O país é governado por um partido político que visa exclusivamente formar um bloco com aliados no continente americano, como é o caso de Cuba e da Venezuela. Hoje já há interferência internacional na política brasileira. É preciso que se evite a continuidade desse ato ilegal", frisou.
Mulheres e crianças não participaram da Marcha em Natal. "Minha mulher e meus filhos não vieram porque estavam com medo de haver algum ato contra nós. Infelizmente estamos vivendo um momento em que as pessoas d ebem estão presas atrás de grades em casa e a bandidagem toma conta das ruas. Ainda dá tempo de retomarmos a ordem nesse país", disse Luis Klinger.
Segundo Klinger, um novo encontro deve ser marcado nos próximos dias. "Estamos apenas iniciando o movimento para organizar o Brasil. É uma caminhada longa, mas vamos conseguir vencer", concluiu.
Marcha da Família, como foi em 1964 (Foto: Arte/G1)
Saiba como foi a Marcha da Família original, em 1964
A “Marcha da Família Com Deus pela Liberdade” ocorreu em 19 de março de 1964 e reuniu cerca de 500 mil pessoas. O ato começou na Praça da República e terminou na Praça da Sé, percorrendo no caminho a Rua Barão de Itapetininga, Praça Ramos de Azevedo, Viaduto do Chá, Praça do Patriarca e Rua Direita. A marcha foi convocada como uma resposta ao comício que o presidente João Goulart fez na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, em 13 de março, quando defendeu suas reformas de base para um público de 200 mil pessoas. Os manifestantes eram contra o governo de João Goulart, pois temiam a implantação de um regime comunista no Brasil, e favoráveis ao golpe militar.
Ela  foi organizada pela União Cívica Feminina, um grupo de mulheres com ligação com empresários paulistas. Segundo a historiadora Heloísa Starling, da Comissão Nacional da Verdade, a Marcha  teve ainda apoio de setores da Igreja Católica e acabou se tornando o modelo para manifestações que começaram a ocorrer em diversas outras cidades. Para a historiadora, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade foi a “face mais espetaculosa dos golpistas” em 1964.   O ato e as manifestações em outras cidades que se seguiram fizeram parte de uma grande “frente social” que teve ainda participações de setores do comércio, imprensa e estudantes. “Era necessária essa mobilização popular para legitimar o golpe”, segundo Heloísa.
Quase duas semanas depois da Marcha, em 31 de março, o Exército mobiliza tropas e começa a tomada do poder. Em 11 de abril, o general Castello Branco é nomeado o primeiro presidente do período de ditadura, que durou 20 anos. O regime de exceção durou no país até o começo de 1985, quando o governo do general João Baptista de Oliveira Figueiredo foi sucedido por José Sarney (PMDB). À época, Sarney era vice de Tancredo Neves, eleito pelo Colégio Eleitoral após o movimento Diretas Já. Durante a ditadura, opositores do regime foram exilados, presos, torturados e assassinados.  Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade foi instalada pela presidente Dilma Rousseff  para apurar as violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar. A comissão tem até 16 de dezembro de 2014 para concluir os trabalhos.

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