Em 1977, o pastor Edir Macedo começou sua carreira de pregador em cima
de um coreto no subúrbio do Rio de Janeiro. Só algum tempo depois
conseguiu dinheiro suficiente para alugar o primeiro imóvel da Universal
do Reino de Deus, um ponto vago deixado por uma funerária, com
capacidade para apenas 100 pessoas. Passadas quase quatro décadas desde
esse início modesto, o autointitulado bispo, dono de uma fortuna pessoal
estimada em 1,1 bilhão de dólares, segundo a revista americana Forbes,
controla a maior igreja evangélica neopentecostal do país, com 6 500
endereços no Brasil (1 010 dos quais no Estado de São Paulo e 246 na
capital), além de outros negócios, a exemplo da TV Record e de uma
participação de 49% no Banco Renner. O grande símbolo desse crescimento
vem sendo erguido desde 2010 em um trecho da Avenida Celso Garcia, no
Brás. Trata-se do Templo de Salomão, concebido nos mínimos detalhes para
ser um novo cartão-postal religioso.
O projeto, que já contou com cerca de 1 800 operários no auge da
construção, encontra-se em fase de acabamento. A área construída tem
espaço ainda para mais de cinquenta apartamentos, que serão ocupados por
pastores, incluindo o que foi preparado para ser anova residência de
Edir Macedo. O bispo fez no ano passado a promessa de só cortar a barba
quando tudo estiver pronto, em 31 de julho, data em que ocorrerá a festa
de inauguração com a presença da presidente Dilma Rousseff, do seu
antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, do governador Geraldo Alckmin e
do prefeito Fernando Haddad, entre outras autoridades. Até lá, a
política é manter o maior segredo possível. Nos últimos meses,
funcionários da Universal circulavam pelo local usando capacete com o
logo da igreja, a fim de fiscalizar qualquer tentativa de vazamento de
informações. Os mais de cinquenta fornecedores de materiais e serviços
da construção assinaram um contrato de confidencialidade. Nele consta
que o acordo seria rompido em caso de divulgação de detalhes do interior
do projeto. “Conheço gente que postou foto numa rede social e foi
demitida”, conta um dos empresários envolvidos no trabalho. Apesar de
todos os cuidados, alguns registros acabaram circulando, como os
reproduzidos nesta reportagem.
Ao criar o prédio no Brás, Edir Macedo não pensou em agradar apenas a
seu público cativo. De olho nos turistas de religiões variadas, o
complexo contempla um museu do Velho Testamento, batizado de Memorial. O
local terá um telão, auditório e doze colunas para explicar a origem
das doze tribos de Israel. Um jardim com oliveiras importadas de Israel
relembra o Monte das Oliveiras, onde Jesus passou sua última noite na
Terra antes de ser crucificado.
A obsessão pelos detalhes fez com que o bispo também importasse de
Israel todas as pedras que revestiriam a obra. Foram mais de 40 000
metros quadrados de material trazido de Hebron, a antiga capital do
reino de Davi. Trata-se do mesmo revestimento do Muro das Lamentações. O
material da Universal teve um acabamento mais lapidado e menos poroso.
Funcionários da obra fizeram suas orações ajoelhados e com as mãos
encostadas na parede. É possível que o local se transforme em uma
espécie de muro das lamentações paulistano. O segurança do trabalho
Márcio Kohler, de 47 anos, está na construção da igreja do Brás desde
2011. Nesse período, conta ter encontrado nódulos no intestino. “Num
primeiro momento fiquei apreensivo, mas passei a meditar nas promessas
de Deus”, diz ele, a respeito da suspeita de câncer. Trabalhar na igreja
o teria ajudado a se curar sem precisar passar por cirurgia.
Imagem aérea do suntuoso templo do bispo Edir Macedo
(Foto:
Mario Rodrigues
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Reprodução
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Mario Rodrigues
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Reprodução
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Mario Rodrigues
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Edir Macedo e a mulher, Ester: promessa de não cortar as barbas até que as obras sejam finalizadas
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Reprodução
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Fachada da Universal, na Avenida Celso Garcia, 1989: começo modesto
(Foto:
Juca Rodrigues/Folhapress
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